24 dezembro, 2013

meu riso só

Todos os dias, o meu primeiro sorriso é visto por ninguém. Por ser tão discreto assim, como ele aprendeu a ser. Uma hora quase exata depois de acordar, ele vem. Não adianta tentar antes disso, nem a necessária cordialidade da vida em sociedade faz um sorriso birrento me aparecer antes. Pontual desse jeito. Metódico, até. E normalmente é aquele riso de canto de boca contidinho,  seja no balançar do ônibus, seja no meio da rua e, temente do julgamento alheio, olho por cima dos óculos levantando a sobrancelha para curiar se ninguém viu ele saindo. Algumas vezes ele quer explodir, e nessas horas, eu tamborilo o pé. É, o sorriso também pode vir lá nas extremidades. Como aquelas pessoas que riem nas mãos, quando dedilham um cavaquinho de som divertido. A felicidade surge onde ela bem quiser.

Eu comemoro o meu primeiro sorriso despercebido. Quer dizer que um novo dia está começando, e muitos outros risos maquinados e guardados durante a noite poderão surgir ao longo de dezesseis ou vinte horas. E não espero que ninguém entenda a demora em produzir o primeiro do dia. É que a máquina está ficando velha, e a latência da noite cansa demais. Então, se avexe não, que o sorriso, quentinho, sai em uma hora. Amanhã de manhã.