16 julho, 2007

rosa com branco

Foi naquela noite em que as fábulas viraram realidade. Nunca tinha visto tanto, tanto brilho, tantas saias rodadas, tanta perfeição deslizando no mesmo espaço. Pequena, ela era da altura de cinco palmos do seu pai – ela sabia, sempre pedia pra ele lhe tirar a altura e ver quanto ainda faltava para ser mocinha. Seus olhos ficavam na exata altura certa do deslumbramento.

De repente, o olhar brilhante congelou. Ela encontrou bem aquilo que procurava. Disparou, antes erguendo o vestidinho rosado, e se esgueirou por trás de uma palmeira, de outra e de mais outra. Tentou, com as mãos de luvinhas de renda, esconder aquele sorriso de contentamento que só crianças pequenas sabem mostrar. Até parece que elas têm duas curvinhas a mais no sorriso.

E voltou saltitante para onde estava, mas agora procurava outra coisa. Depois de uns pulos rosa com branco, conseguiu chamar a atenção da mãe, antes perdida entre canapés e amigos ilustres. De mão materna na sua, a pequena correu novamente para o que lhe chamara atenção, arrastando a mãe no passinho miúdo marcante de uma urgência infantil.

Ela tá ali, olha! Viu como não era mentira? – disse a pequena. E de repente, me puxa a barra do vestido. Sem vergonha, sem dúvida, ela olha para mim, porque uma coisa que ela tinha consigo, sim, era aquela certeza. Me viro e ouço com atenção.

“Moça, você é uma fada, não é?”

Naquela noite, eu fui uma fada.